quinta-feira, dezembro 07, 2006

Yukio

Kimitake Hiraoka era triste
E viveu na Era Tokugawa.
Sonhava em Kabuki
E escapou da guerra.
Tornou-se Mishima:
Kamen no Kokuhaku!
Sociedade da Armadura,
Funda o Tatenokai.
Ousado e invasivo,
Comete o Seppuku.
Deixa a última "palavra":
Hōjō no Umi.
E volta a ser Himitake,
O Hiraoka de Tokugawa.
(para Yukio Mishima, "o maior escritor que o Japão já viu"...como exigiu o seu pai!)

O Esquife


Parei por um momento o meu café e corri para o jardim.
Eram oito horas da manhã, e eu ainda nem havia tirado o pijama. Foi a primeira cena verdadeiramente marcante que registrei na nova cidade: exatamente quatorze pessoas, todas negras, empurrando uma estrutura metálica com rodas de bicicleta que por sua vez sustentava um enorme caixão sem muitos ornamentos. À frente, um dos seguidores levava a coroa de flores, que assim como a caixa do defunto não era lá essas coisas. Ninguém aparentava tristeza ou desolamento, estavam todos voltados para a vida, absortos e confiantes na vida. Apenas uma velha senhora que se escorava num rapaz parecia andar com dificuldades, mas talvez fosse coisa da idade mesmo.Deduzi que pudesse ser a viúva. Sim, porque pelo tamanho do objeto de madeira imaginei que só poderia estar guardando o corpo de um homem, e pela feição dos que o levavam sua morte não foi tão inesperada, portanto, deveria ser mesmo um homem velho.
Aos passos largos e apressados o enterro foi deixando minha rua. Os vizinhos e os sabiás quebraram o silêncio voltando à agitação feroz e sem finalidade que é a vida.
Para minha surpresa, vim saber mais tarde que a matéria que passava era de fato de um senhor negro, alto de quase noventa anos conhecido por seu Manuel, que ao contrário do Bandeira, estava liberto para sempre da alma extinta.

A Guimba

Deu o último trago e jogou a guimba pela janela. O incandescente objeto viajou por doze andares até encontrar um toldo amarelo pelo caminho.Atravessou a lona com o que restou de sua brasa e morreu numa xícara de café. O freguês do bistrô, que lia distraído a página de classificados do Diário da Tarde, levou sutilmente a xícara até a boca sem perceber que na espuma de seu expresso havia uma interferência. Bebeu o café e o devolveu aos ares com os mesmos lábios que já gritavam o garçom:
_ Que absurdo é esse? Quem fez essa brincadeira de mal gosto? Eu exijo uma explicação muito convincente! Onde já se viu, uma guimba de cigarro no meu café!
_Perdão, senhor, não estou entendendo!
_Como assim não está entendendo? Por um acaso o café aqui vem com guimba no lugar do biscoitinho de nata?
_O senhor está me dizendo que tem uma guimba no seu expresso?
_Olha, seu inútil! Não está vendo aqui na mesa? O que me diz dessa palhaçada?
O garçom coçou a cabeça, fitou os olhos no objeto encharcado, na xícara, no freguês, depois se atreveu:
_Eu lhe trago outro café.
O homem encheu os pulmões com violência, franziu a testa e soltou:
_Chame seu superior.
Segundos depois voltou o garçom trazendo um baixinho de bigodes que dizia ser o dono do bistrô. O freguês, sem rodeios, puxou um documento da carteira e em pouco tempo as portas do estabelecimento foram lacradas.
O homem que tomava tranqüilamente seu café e lia o Diário da Tarde era um impaciente funcionário da vigilância sanitária. Além de fechar o bistrô por tempo indeterminado, aplicou uma multa ardente pelo fato, que foi paga pelo garçom pouco antes de ser demitido.
O baixinho de bigodes desolado com a circunstância, bateu seu automóvel na volta pra casa subindo o prejuízo e a desgraça daquele dia.
O garçom, ao reencontrar a esposa e esclarecer-lhe o episódio e suas conseqüências, fora mais uma vez chamado de inútil e abandonado em seguida.
Meses depois, eis o que o arremesso inconveniente causou:
O baixinho de bigodes abriu uma casa lotérica e foi assaltado três vezes;
O garçom matou a mulher e se enforcou;
O vigilante sanitário nunca mais tomou café.
E o cara do décimo segundo andar?
Este fora internado há duas semanas com enfisema pulmonar na Santa Casa.

Nonada, Rosa, Nonada!

"Quando escrevo, repito o que já vivi antes. E para estas duas vidas, um léxico só não é suficiente. Em outras palavras, gostaria de ser um crocodilo vivendo no rio São Francisco. Gostaria de ser um crocodilo porque amo os grandes rios, pois são profundos como a alma de um homem. Na superfície são muito vivazes e claros, mas nas profundezas são tranqüilos e escuros como o sofrimento dos homens."

sexta-feira, dezembro 01, 2006

Obra de Pedro Nava

“Quando morto estiver meu corpo
evitem os inúteis disfarces,
os disfarces com que os vivos,
só por piedade consigo,
procuram apagar no Morto
o grande castigo da Morte.
Não quero caixão de verniz
Nem os ramalhetes distintos,
Os superfinos candelabros
E as discretas decorações .
Eu quero a morte com mau gosto !
(...)
E descubram bem minha cara:
Que a vejam bem os amigos.
Que a não esqueçam os amigos
E ela lance nos seus espíritos
A incerteza, o pavor, o pasmo...
E a cada um leve bem nítida
A idéia da própria morte.
(...)
Meus amigos! tenham pena,
Senão do morto, ao menos
Dos dois sapatos do morto!
Dos seus incríveis, patéticos
Sapatos pretos de verniz.
Olhem bem estes sapatos
E olhai os vossos também.
(“O Defunto” )

“O teu corpo fabuloso que destruíste
destroçando, com a tua,
minha vida, que te pertencia,
- já fez muitos anos
que descansa em paz,
no carneiro 11.514
da quadra número 4
do Cemitério de S. João Batista.

Desde então tua alma indomável
Navega nos planos siderais
Arrebatada no carro de fogo
Do profeta Elias.

Mas todos os dias,
hora por hora,
no fundo da cova
de silêncio e treva
em que me lançaste,
clamo por ti.

Clamo pela radiosa, pela amada, pela rosa
Clamo por quem foi
a fartura do pobre,
a esperança do lázaro
e a ressurreição do morto.”
(“Nameless here for evermore”)

Pedro Nava


"EU SOU UM POBRE HOMEM DO CAMINHO NOVO DAS MINAS DOS MATOS GERAIS."

segunda-feira, novembro 27, 2006

Minha infância hoje


Minha infância hoje
é sozinha.
Ninguém me chama,
ninguém reclama,
não fica no pique
nem me pega!
Minha infância hoje
é sozinha.
Não salto trilhos,
Não pulo cerca,
Não me escondo
Nem acho ninguém!
Minha infância hoje
é sozinha.
Já não ganho mais brinquedos,
se quiser, tenho que comprá-los!

sábado, novembro 18, 2006

Santo Antônio do Salto/ MG

Essa cachoeira é especial, existe uma gruta por trás dela que deixa o lugar inda mais fascinante!

sexta-feira, novembro 17, 2006

Santo Antônio do Salto/MG


Esse é o Salto visto do alto!
Meus primos moravam nesse lugar,
parte da minha infância eu passei visitando a família!
Zizi me levava pra ver cada nascente de água do Salto, mas o lugar que eu mais gostava era a biquinha d'água que tinha no quintal da casa dela! rsrsrs

Santo Antônio do Salto/ MG

Distrito de Ouro Preto/MG
É um lugar lindo, abençoado por tudo que é deus desse mundo!
Esse na foto é chamado de "canal do salto"...

Ce matin, ce soir...

Ce matin,
Ma montre s'est arrêtée
J'ai cassé mes lunettes
J'ai cassé le talon!
(Il n'est pas ici)
Ce soir,
Il est tard...
Y a-t-il un message pour moi?
La même chose
Il n'est pas ici!
(Jacqueline Salgado)

quinta-feira, novembro 16, 2006

La citation


"Le sourire est le baiser de l'âme."
(Michel Bouthot)
Extrait de Chemins parsemés d'immortelles pensées

quarta-feira, novembro 15, 2006

Ele "vai passar", e eu?


Meu último grande ídolo vivo!
O único ser capaz de me fazer ouvir, cantar e sentir a sua música...
O único pelo qual eu seria capaz de trocar o meu marido, me casaria com ele só pra ganhar uma canção!
Gosto mais do Chico do que gostei dos Menudos!
Prefiro a voz meio fanhosa dele do que a perfeição gutural do Brad Pitt!
Eu queria ser amiga do Chico,
trocar cartas,
discutir Câmara Cascudo,
falar de passarinho,
(ai que inveja do Tom!)
Eu até aprenderia a jogar futebol de botão
E se fosse o caso, torceria pro fluminense!
Pois é,
ele "vai passar" por aqui em dezembro,
nem que eu virasse papai Noel do avesso
conseguiria um ingresso!
Passo a detestar ainda mais o mês de dezembro,
desde 1991, quando neste mesmo mísero mês,
não pude assistir a um quadrante do Paulo Autran
porque não tinha grana!
Agora é diferente,
Tenho a grana, mas cadê o ingresso?
Daqui a pouco o Chico já vai tá com o pé-na-cova
assim como o Paulo Autran já está!
Faz mal não,
eu espero por mais 10 anos!
Fazê o quê?
Ele "vai passar" e "a gente vai levando"!

Sobre o poema

Um poema cresce inseguramente
na confusão da carne,
sobe ainda sem palavras,
só ferocidade e gosto,
talvez como sangue
ou sombra de sangue pelos canais do ser.
Fora existe o mundo.
Fora, a esplêndida violência
ou os bagos de uva de onde nascem
as raízes minúsculas do sol.
Fora, os corpos genuínos e inalteráveis
do nosso amor,
os rios, a grande paz exterior das coisas,
as folhas dormindo o silêncio,
as sementes à beira do vento,
— a hora teatral da posse.
E o poema cresce tomando tudo em seu regaço.
E já nenhum poder destrói o poema.
Insustentável, único,
invade as órbitas, a face amorfa das paredes,
a miséria dos minutos,
a força sustida das coisas,
a redonda e livre harmonia do mundo.
— Embaixo o instrumento perplexo ignora
a espinha do mistério.
— E o poema faz-se contra o tempo e a carne.
(Herberto Helder)

terça-feira, novembro 14, 2006

Nada cabe à parte que me cabe.

Por isso eu preciso de mais e mais gavetas!

A Gavetinha

Transborda a minha gaveta...
Aquele papel do fundo foi pra outra dimensão.
As traças querem mais,
E nada mais é novidade.
O espaço é curto,
O espaço sente,
Saltam as letras espremidas.

Dê-me o martelo,
Passa o serrote,
Vamos salvar noutra caixa!